quinta-feira, 12 de março de 2009

A MARAVILHA PORTUGUESA EM CABO VERDE

Cidade Velha de Santiago

Uma das Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo em Concurso para a eleição de 7

Não se sabe ainda ao certo quem foram os primeiros nautas a chegar a Cabo Verde.
Ou o veneziano Cadamosto, que estava ao serviço de Portugal, em 1456, ou então Diogo Gomes e António de Noli, em 1460 ou 1461.
Após o descobrimento, a Ilha de Santiago, onde fica a Cidade Velha, como a antiga e primeira capital é comummente designada, foi dividida em duas capitanias, uma com sede na Ribeira Grande, e outra com em Alcatrasazes, que viria a ser extinta logo em 1505, mas onde existia uma igreja, cujas ruínas ainda subsistiam no princípio do século XX. (. . .)
Uma das vistas mais importantes que conhecemos, e que nos mostra como era a Cidade Velha no tempo do seu maior esplendor, data de 1635, e é um desenho colorido executado Joannes van Keulen, hoje guardado no Arquivo Histórico Ultramarino. A cidade já tinha três bairros: o de São Sebastião, o de São Brás e o de São Pedro, e duas ruas pelo meio deles. Quanto às ruas, eram a de São Pedro, que ia até ao porto, além das da Carreira e da Banana, onde ficavam as casas dos populares.
O núcleo urbano estruturava-se em função de três eixos principais, todos fruto da forma do próprio terreno; o do porto, o da ribeira e o da achada.
A principal fortificação da Ilha de Santiago é a fortaleza Real de São Filipe, a cidadela, dominante à Ribeira Grande. Foi Diego Florez Valdez quem a mandou fazer ao engenheiro que levava consigo o levantamento da fortificação existente e o projecto de nova fortaleza. Em 1638 o estado da fortaleza de São Filipe era de total abandono e ineficiência dos dispositivos defensivos. É uma construção canónica, abaluartada, com grandes cortinas a unir fortes baluartes poligonais, tudo conformado com o terreno que é irregular.
Relativamente à arquitectura religiosa, é na cidade Velha que se conserva o espólio mais importante.
Em 1592 D. Filipe II pediu ao bispo de Cabo Verde informações sobre o local onde se construía a Sé Catedral, que já tinha sido começada pelo prelado anterior, dado que tinha ouvido dizer que não só era grande como também ficava muito afastada, e porque, dada a sua situação, desembarcando corsários na ilha, como já acontecera, a poderiam usar para se fortificarem e atacar a cidade. Em 1626 decorriam obras e o rei mandava que a partir desse ano fosse o bispo a superintender nelas.
Com o que resta da Sé Catedral e juntando algumas fotografias e vistas mais antigas, ficamos com a certeza de que se tratava de um edifício de enorme volume, planeado por um arquitecto hábil, mas que teve o inconveniente de estar longe do Reino.
Tinha duas fortes torres a cingir a fachada, de bom traçado clássico, com portais de desenho clássico, que por certo foram enviados já aparelhados de Lisboa. Todos os elementos de sustentação seguem a ordem toscana simplificada, afinal o estilo de todas as sés joaninas, quer do Continente quer das de além-mar. A cabeceira é tríplice, com uma capela-mor de enormes dimensões serliana. Como sede de Diocese que foi, a Ribeira Grande teve um paço episcopal, de que há vestígios e testemunhos fotográficos das suas ruínas. Demorou muitos anos a ser construído, e em 1589 o rei teve de dar 100.000 reais para sua reparação.
A igreja da Cidade Velha que se conserva em melhor estado é Nossa Senhora do Rosário, construída em duas fases, uma quando ainda vigoravam os modelos tardo-góticos, e outra da segunda metade do século XVI. É muito simples, com planta rectangular, uma única nave, capela-mor e capelas laterais. A frontaria está marcada por um belo portal clássico de cantaria aparelhada. No interior destaca-se uma capela lateral com arco de entrada ogival, chanfrado de claro recorte tardo-gótico e a abóbada de nervuras ornamentada com chaves com as Armas Régias, a Esfera Armilar e a Cruz de Cristo.
Na Cidade Velha ainda está erguido o pelourinho manuelino, enviado de Lisboa, e esculpido em liós..Tem a base com degraus, um plinto octogonal e o fuste helicoidal, com a pinha formada por um capitel com decoração geométrica e fitomórfica, terminado com segmento de pináculo.

Pedro Dias
Professor Catedrático de História da Arte da Universidade de Coimbra

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