segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

UMA VELINHA EM FÁTIMA

Por estes dias há um sector no centro do palco, a banca.
Para muitos de nós um banco é uma coisa estranha que - apesar de se chamar banco - não faz mesas nem cadeiras, como o Alfredo Marceneiro, não fornece serviços essenciais como a água ou a electricidade e, mesmo assim, existe há séculos e dá lucros (a par com uma ou outra aldrabice de proporções galácticas).
É estranho!
Vamos avaliar um serviço que a banca presta. Apenas um.
O Banco de Portugal publica mensalmente dados agregados sobre a banca que permitem acompanhar muito do que se vai passando na economia nacional. Um desses dados reporta as responsabilidades que os residentes têm face ao exterior, o que devemos ao exterior.
Em Maio de 2002 essa dívida passou os 100 biliões de euros e manteve-se a subir, com um pequeno solavanco em 2004/05, até Fevereiro de 2008 quando atingiu 166.6 biliões. Como se vê no gráfico, a variável cortou a linha de tendência (linha mais fina) no Verão do ano passado indicando que o movimento de subida está provavelmente esgotado.
Antes de mais o que é 166.6 biliões de euros? Sabemos que é muito, que é mais do que o prémio do Euromilhões. Este montante é maior do que o valor da produção nacional durante um ano, é superior ao Activo de qualquer dos bancos nacionais, ou seja, é mesmo muita massa. E é isto que o sector privado vai ter de pagar aos nossos financiadores.
DEPÓSITOS E EQUIPARADOS DE NÃO RESIDENTES
Milhões de euros
Fonte: Banco de Portugal

Um serviço que a banca faz regularmente é conseguir obter o refinanciamento deste montante junto de investidores europeus, japoneses, árabes, etc. para evitar o curto-circuito do crédito à economia.
Até 2007 esse exercício de refinanciamento não levantava problemas. A crise veio agitar muito profundamente essa calma. Um dos riscos, em maiúsculas, da economia portuguesa é ocorrer uma perturbação nesta cadeia de refinanciamento que seria transmitida de imediato e violentamente às famílias, às empresas de todos os sectores e, em especial, às PMEs e outras sem formas alternativas de financiamento e, por fim, ao emprego.
Afinal a banca sempre faz qualquer coisa e nós, conscientes disso, podemos acender uma velinha em Fátima para que continue a fazer.

Luis Rosa

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