segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A PÓLVORA E O RASTILHO

O jasmim está a fazer uma tremenda tempestade de areia pelo Norte de África. Começou na Tunísia, considerada um oásis, foi ao medieval Yemen e está a rachar as esfinges egípcias –consta que aqui o governo abriu as prisões para lançar o caos justificador da repressão nas ruas.
Marrocos está a tentar passar despercebido, a Líbia e a Síria têm os segredos bem guardados (e reprimidos) e a Argélia já interditou actividades inconvenientes e deve estar a pensar usar o seu fundo soberano para estancar a contestação.
Mas afinal o que está a acontecer? Isto de se imolarem e exigirem a queda dos tiranos é uma orquestra com todos os instrumentos bem afinados? Deu-lhes “práli” de repente? Ou é tudo obra do facebook e do twitter que empurrou os rapazes para a rua?
Talvez não.
Porque é que o rastilho chegou à pólvora, neste momento?
A pólvora já lá estava. Opressão, cliques corruptas, etc., a que se junta populações enormes confrontadas com recursos escassos. A Turquia tem a maior população, mais de 100 milhões, segue-se o Egipto com mais de 80 milhões e há a Argélia com 35 milhões, etc.
A fazer subir o stock de pólvora está ainda um ritmo demográfico muito alto que alarga o número dos jovens, sem emprego, sem habitação nem futuro. Com a actual crise, o sonho de vir para a Europa é cada vez mais um sonho. Esta válvula de escape deixou de funcionar.
Vamos ao rastilho. O rastilho é a subida dos preços dos alimentos. Trigo, arroz, milho, açúcar têm subido muito recentemente. Estes países dependem da produção de outros e são muito atingidos por estas subidas de preços.
E agora o rastilho chegou à pólvora.
Resta esperar que o jasmim não traga a burka.

Luis Rosa

2 comentários:

Anónimo disse...

Acho que se esqueceram de um país árabe que até é um pouco católico, e que é o Algarve.
Cá para mim já não falta muito para que comecemos também á pedrada aqui. É que aqui também sobem os preços, também há jovens sem trabalho( mas menos aborrecidos porque já estão habituados a não trabalhar e não estou a ver atirarem pedras para lhes darem trabalho, vejo mais atirarem pedras para não irem trabalhar).Poderemos tentar primeiro com palavras sem medo, de modo que a coragem faça o efeito das pedras dos egípcios. Estamos adormecidos, não protestamos porque temos medo de represálias e de termos de vender os plasmas que nos mostram as desgraças dos outros para ficarmos mais felizes. Trocámos a coragem pelo conforto e estaremos muitos mais mortos que aqueles que morreram no Egipto. Esses morreram para alguma coisa, nós estamos mortos e não é por coisa nenhuma. Que dirão os nossos filhos no futuro. Que não percebem porque passam fome? E nós respondemos, como poderíamos fazer alguma coisa se estávamos mortos? Eu vou ver se ressuscito, nem que seja por agora saber que se pode nascer duas vezes e há uma réstia de esperança com um novo presidente que também é algarvio e católico. Pode ser que não seja preciso pedrada. Ainda por cima este novo presidente até é especialista em finanças, coisa que nunca tínhamos tido, e como é algarvio até pode ser que traga alguma coisa para o Algarve, coisa que o Outro presidente nunca trouxe, alem dos amigos.

È bolo e queima

ATELIER PEDROSO disse...

Caro anónimo

Obrigado pelo seu comentário.

Concordo consigo: as expectativas dos jovens em Portugal não são brilhantes. Mas isto é uma opinião.

O protesto é também central para uma atitude cívica e há tanta coisa para protestar e contestar...

Para mim, o focus deve ser dado ao caminho a seguir nos próximos anos. Sem termos ideias claras sobre isso protestar pode apenas afastar a espuma para outro lado.

Mas deixe-me também discordar de si: no Egipto há 15 milhões de pessoas que vivem com 1 dólar/dia.