segunda-feira, 1 de junho de 2009

UM NOVO EQUILIBRIO

Saber como chegámos aqui é essencial para saber como vamos sair.


Uma acusação antiga é que a dinâmica do capitalismo leva a crises de sobreprodução, ie, a crises provocadas por uma produção excessiva face à procura existente. Quando se ouve falar em programas de demolição de casas surge-nos a imagem de uma crise de sobreprodução igual às que, no passado, levaram à destruição de café ou de outros bens.

Claro que a procura efectiva depende dos salários, da distribuição do rendimento e da riqueza, ou seja, quanto mais baixos forem os salários e mais dispare for a distribuição do rendimento mais difícil é gerar procura efectiva. Quanto menos dinheiro chegar aos pobres menos procura há.

Nos EUA 50% da população detém 2,8% da riqueza. Esta desigualdade extrema não pode permitir que a procura efectiva equilibre e absorva a produção.

Não pode?

Nos EUA pôde. Para isso usaram-se todos os truques possíveis e imaginários, produtos financeiros com nomes impronunciáveis, contrataram-se pós-doutorados em matemática e física para que o sistema financeiro conseguisse – de acordo com os preceitos em vigor – fazer esticar a procura até ao nível necessário. Isto foi feito pelo endividamento dos americanos incluindo os que não tinham, já então, capacidade de cumprir o serviço da dívida (os empréstimos sub-prime).

O filme dos últimos anos chamou-se, assim, prolongar o crescimento da procura à custa do endividamento extremo.

O filme actual chama-se: calafetar os défices dos agentes o menos mal possível até se conseguir um novo equilíbrio. A destruição de riqueza foi muito grande e por isso esse novo equilíbrio ainda demora e demorará tanto mais quanto mais lentamente se corrigir a extrema desigualdade da distribuição do rendimento no Mundo.


Luis Rosa

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